Obra editada pela EAB discute estratégias que funcionam e que não funcionam na prevenção da violência
Publicado em: 3 de julho de 2023 Categorias: Destaque
Escrito por Alberto Kopittke, “Manual de Segurança Pública baseado em evidências” traz evidências de 170 programas aplicados em diversos países do mundo como forma de prevenir a violência
Há, pelo menos, 30 anos, a segurança pública passou a ser considerada um tema fundamental e um dos principais desafios a ser enfrentado pelo Estado brasileiro. A amplitude dos temas e dos problemas afetos à área evidenciam que a discussão sobre a segurança não pode ficar restrita ao repertório tradicional do direito e das instituições de justiça, particularmente da justiça criminal, presídios e polícias. Existem outros atores que precisam ser incorporados ao debate e estratégias eficientes, já utilizadas em outros países, que podem servir como modelo.
Discutir o papel desses atores e apresentar métodos já utilizados em outros países na seara da prevenção da violência são dois dos principais objetivos do livro “Manual de Segurança Pública baseado em evidências”, escrito pelo Doutor em Políticas Públicas (UFRGS) e Mestre em Ciências Criminais (PUC-RS), Alberto Kopittke, editado pela EAB e publicado pelo selo Conhecer.
O livro traz uma abordagem inovadora para o Brasil no que diz respeito à superação da criminalidade e da violência. Utilizando de sólidas evidências científicas, o autor apresenta estratégias que funcionam e que não funcionam nesse contexto. Por meio de uma abordagem ilustrada e didática, são explorados aspectos como a história, os conceitos, casos concretos já aplicados tanto no Brasil quanto no restante do mundo, além das evidências de 170 programas em áreas como prevenção familiar, escolar e comunitária; urbanismo e prevenção situacional; policiamento; justiça criminal; redução da reincidência criminal; violência contra as mulheres e combate ao racismo.
Nós conversamos com o autor para saber mais sobre a obra e as motivações que o levaram a pesquisar sobre o tema da Segurança Pública. Confira a entrevista.
EAB: Para iniciar, gostaríamos que você nos contasse como e quando surgiu seu interesse pelo desenvolvimento de pesquisas na área da segurança pública?
Alberto: O interesse pela área começou quando eu fui trabalhar no Ministério da Justiça. Já tinha trabalhado em outras áreas do Governo Federal e também como gestor municipal e percebi que existia um grande desafio nessa área no país e poucas respostas concretas. Percebi que há muita discussão sobre os problemas relacionados à violência no Brasil, o que também é importante, mas pouca discussão sobre estratégias que realmente podem funcionar ou não dentro dos preceitos da democracia.
Eu resolvi mergulhar nisso, porque também percebi que era um tema fundamental para a democracia do país, mostrar que é possível reduzir a violência, do contrário as pessoas vão preferindo outras alternativas. Uma sociedade com medo é uma sociedade que aceita qualquer coisa. Então resolvi mergulhar nesse assunto.
EAB: Sua obra, como o título já expressa, apresenta evidências e exemplos práticos sobre o que funciona e o que não funciona no combate à violência. Em sua opinião, qual a importância de unir teoria e prática para discutir essa temática?
Alberto: Minhas experiências profissionais me fizeram compreender que era preciso aproximar os mundos da universidade, que produz conhecimento teórico, dos profissionais da segurança e outros que atuam com o tema da violência e que possuem o conhecimento prático. Essa visão de segurança baseada em evidências pressupõe justamente isso: a união de forças entre todas as áreas para descobrir e aplicar as estratégias que realmente funcionam na prevenção e redução.
Os aspectos teóricos da violência, trabalhados por áreas como a Sociologia da Violência, a Criminologia Jurídica, as Teorias do Crime, são fundamentais, mas a visão de segurança que proponho na obra trabalha mais com a prática. São estudos práticos que integram um campo novo do saber, chamado de Criminologia Experimental, que ainda não é difundido no Brasil. O livro traz um conteúdo baseado no que é trabalhado nas grandes faculdades de criminologia do mundo. Essa visão propõe justamente uma fusão entre a prática e o conhecimento científico aplicado, como se fossem grandes laboratórios que unem o trabalho de quem está, em uma ponta pesquisando sobre o tema, e na outra quem trabalha com a segurança na rua. Isso garante um aprimoramento das políticas públicas.
EAB: Quais são os atores que podem ser incorporados nesse debate? Qual é o papel de cada um deles na consolidação das políticas de segurança pública?
Alberto: O tema da segurança é central na agenda do país há pelo menos 30 anos. É preciso ampliar a concepção de segurança para muito além do modelo tradicional, que é reativo e está focado na reação a cada crime cometido e que encaminha as pessoas para a estrutura prisional como se essa fosse a única alternativa, a única política de segurança. Ao ampliar o olhar sobre o tema, nos deparamos com políticas públicas que são mais eficientes e inclusive mais baratas, que vão desde trabalhos com as famílias na primeira infância, ao longo do desenvolvimento das crianças, e que se constituem como programas específicos de prevenção à violência que ainda são praticamente desconhecidos no Brasil. Esses programas envolvem os profissionais da educação, para que eles possam receber esse tipo de treinamento para trabalhar com as habilidades socioemocionais com as famílias e as crianças. Envolvem também os profissionais da saúde que atuam principalmente com a Atenção Básica, que é um canal importante para detectar a violência; psicólogos e assistentes sociais que atuam diretamente no Sistema Único de Assistência Social e que trabalham com as e os adolescentes e famílias em situação de risco. Então a discussão precisa ser muito mais ampliada e envolver diversos setores.
Outra área que precisa ser levada em conta quando discutimos segurança é o urbanismo. É preciso que a concepção integral de segurança pública esteja presente nessa área, a fim de que sejam desenhados espaços públicos que gerem maior convivência e integração social, por exemplo.
Além disso, nas forças de Segurança e Justiça também é preciso modificar as práticas para que se criem estratégias mais proativas que deem conta realmente de prevenir a violência. É importante que sejam discutidas formas de ressocialização alternativas à prisão, que tem muito mais efetividade para diminuir a reincidência ou para aqueles casos em que a prisão é necessária, novos programas para a redução do comportamento violento.
EAB: De que forma se deu a participação da EAB no processo que culmina agora com a publicação da obra? Os serviços ofertados pela editora facilitaram a experiência?
A EAB foi fundamental para transformar esse sonho em realidade. O produto final ficou melhor do que aquilo que eu sonhava, graças à Editora. Eu sabia desde o início que precisaria ter uma qualidade diferenciada no design do livro para que funcionasse, justamente pelo volume e pelo tipo de informação que estou trazendo, que é tem como objetivo apresentar os programas. Tinha que ser algo muito atraente, seguindo o exemplo de obras na área da saúde que trabalham com esse formato, mas que na área da segurança ainda é completamente desconhecido. A EAB abraçou esse projeto de uma forma incrível, sem medir esforços por cerca de dois anos de trabalho, até chegar a um ótimo resultado.
Onde adquirir a obra
A obra “Manual de Segurança Pública baseado em evidências” está disponível em suporte impresso. A aquisição pode ser feita diretamente no site https://www.segurancaeevidencias.com.br/